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Evento na UERJ discute cultura e comunicação popular como estratégia de resistência

Folkcom 2025 reúne nomes de dentro e fora da academia do Brasil inteiro para pensar futuros possíveis

 

Arte: Lorena Herrero. Logo: Anderson Awvas
Arte: Lorena Herrero. Logo: Anderson Awvas

Com o tema “Raízes do presente, Futuros ancestrais”, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro recebe a 22ª Conferência Brasileira de Folkcomunicação – a Folkcom 2025. O evento, que tem financiamento da Capes, ocorre entre os dias 29 e 31 de outubro, no campus Maracanã. Há ingressos gratuitos para todos os membros de grupos e coletivos populares, além de alunos da própria instituição. Programação completa e inscrições pelo link www.folkcom2025.com.br.

 

Com oficinas, palestras, mesas redondas e atividades culturais, o evento congrega discussões sobre cultura e comunicação popular como estratégias de resistência e caminho para a construção do futuro. As palestras principais, que acontecem sempre às 11h, dão o tom do evento: na quarta-feira, Cicília Peruzzo – pesquisadora especializada em comunicação popular e comunitária – reflete sobre as várias concepções para o adjetivo “popular”. Na quinta, Renato Ortiz, referência nos estudos de cultura e identidade brasileiras, atualiza sua discussão para pensar o lugar da influência e do influenciador na cultura do país.

 

No último dia do evento, é a vez de Renato Noguera, estudioso da filosofia afrobrasileira e autor de Mulheres e deusas: Como as divindades e os mitos femininos formaram a mulher atual, abordar o tema chave do evento. Ele mobiliza seu repertório para discutir as formas como a tradição pode nos ajudar a pensar outros mundos, mais diversos e inclusivos, a serem construídos.

 

A Folkcom 2025 é um evento inspirado pela primeira teoria da comunicação legitimamente brasileira, a Folkcomunicação. Proposta pelo jornalista e pesquisador pernambucano Luiz Beltrão nos anos 1960, a teoria é voltada para o estudo das estratégias utilizadas pelas classes populares e grupos marginalizados para produzir, circular e distribuir informação e conhecimento – uma vez que não tem o devido acesso aos meios hegemônicos. E esta estratégia está ligada, direta ou indiretamente, a manifestações da cultura popular que vão de cantorias e folhetos de cordel à grafites nas paredes e rodas de rima.

 

Mesas redondas

As mesas de discussão acontecem todos os dias, às 16h, e sempre com temáticas diferentes. No dia 29 de outubro, o diálogo inicia com a mesa O Corpo é Folk, dedicada a pensar questões ligadas à cultura, corporalidade e gênero. Participam as pesquisadoras Natânia Lopes, doutora em Ciências Sociais pela UERJ. Ativista pelo direito das trabalhadoras sexuais, ela derivou sua tese na coletânea Atuar ou Não Como Prostituta - programa, etnografia, putativismo (2023). Doutoranda pela UFF, Tamiris Coutinho gerou inquietações nos grupos conservadores ainda na graduação, quando defendeu seu TCC que se tornou o livro Cai de boca no meu b#c3t@o: O funk como potência do empoderamento feminino (2021). Ainda sobre este gênero musical, a terceira participante da mesa é Taísa Machado. Dançarina, roteirista e curadora, ela é fundadora da Afrofunk Rio - plataforma de ideias e experiências para o movimento funk carioca com foco em raça, gênero e território.

 

No dia seguinte, a mesa Comunicação é Raiz busca encontrar na tradição e ancestralidade os caminhos para uma comunicação que promova comunhão e alteridade. Participam Ray Baniwa, doutorando pela UFRJ e pesquisador do impacto das novas tecnologias nas comunidades indígenas no Rio Negro; Jair Martins, pesquisador da Unirio, que se debruça sobre as relações Brasil-África a partir da música, compreendendo o samba "do Congo ao Valongo" e, por fim, o historiador e criador de jogos Jorge Valpaços. Ele, que é professor de ensino básico no complexo do Alemão, utiliza jogos de RPG que cria inspirado em ancestralidades para formação humana e social dos alunos.

 

Já no último dia, a mesa Encruzilhadas da Comunicação vem pensar os vários atravessamentos que perpassam as formas de comunicação popular. Entre festa, religião, espetáculo e tradição, o que a cultura comunica? Para este diálogo, participam o pesquisador Luiz Rufino, autor de Pedagogia das Encruzilhadas (2019); o comunicador Anderson Awvas, que criou o coletivo FolcloreBR em 2013 para discutir e divulgar cultura na internet e o jornalista paraense Kadu Alvorada, que encontrou nas redes sociais caminhos para apresentar e construir afetos sobre tradições e festas populares.

 

Oficinas

Parte fundamental de qualquer evento, as oficinas da Folkcom 2025 foram pensadas para trazer novas experiências para os alunos a partir de atividades práticas. Serão sempre duas atividades concomitantes a cada dia, que ocorrem das 8h às 9h40 da manhã. No dia 29 a designer Mayara Lista oferece a oficina Desenho de observação para trabalho de campo, com uma técnica que utilizou em sua dissertação com turmas de bate-bolas. Já a mestra em história pela UERJ, Gisele Veríssimo, traz uma Introdução à Etnomídia, trazendo exemplos e refletindo sobre as estratégias de apropriação midiática por grupos étnicos como indígenas e quilombolas.

 

No dia 30 de outubro, a doutoranda da UERJ Ellen Alves Lima oferece uma oficina de escrita criativa baseada na Jornada da heroína negra, pensando em outras formas de contar histórias para além do padrão do herói branco e masculino consolidado pela grande mídia. Já Danilo Bantim, coordenador do Núcleo de Filosofia Pop e outras Epistemologias da UERJ (Nepope) traz uma oficina de criação de jogos inspirados pela brasilidade como gancho para tratar temáticas importantes para a educação e formação dos alunos.

 

Por fim, na sexta-feira, o professor do Instituto Federal do Ceará, João Portela, oferece uma oficina de Folkmarketing e Mídias Digitais, refletindo sobre os modos como o mercado se apropria das culturas populares para engajar o público a partir dos afetos. Rodrigo Cataia, produtor cultural e mestrando pela Uniso, trará uma oficina sobre captação de recursos e elaboração de projetos culturais.


Bate-bolas na Cinelândia. Foto: Andriolli Costa
Bate-bolas na Cinelândia. Foto: Andriolli Costa

 

Homenagens

Como forma de reconhecimento da trajetória e trabalho dos que, há anos, tem se dedicado à valorização das tradições e culturas populares no Rio de Janeiro, a organização da Folkcom 2025 vai homenagear 10 personalidades e entidades com o diploma José Marques de Melo de Folkcomunicação. A homenagem vai integrar a cerimônia de abertura do evento, que ocorre às 10h da manhã do dia 29 de outubro.

Na seleção, estão presentes os seguintes nomes: Adair Rocha, professor aposentado da UERJ e da PUC-RJ, ativista da comunicação comunitária e folião de reis. Cáscia Frade, professora aposentada, fundadora do Núcleo de Cultura Popular da UERJ. Coordenou na década de 1980 uma equipe de pesquisadores que produziu o Guia do Folclore Fluminense. Há ainda a professora Eleonora Gabriel, que fundou a notória Companhia Folclórica do Rio em 1987, na UFRJ.

 

Celebramos também o trabalho de Gláucia Garcia, criadora do primeiro portal dedicado à cultura popular brasileira na internet, o Jangada Brasil (1998); de Manoel Dionísio, o Mestre Dionísio, que foi dançarino do Ballet Folclórico de Mercedes Baptista e criador da primeira escola de Mestre-Sala, Porta-Bandeira e Porta-Estandarte e de Lena Martins, criadora das bonecas de pano Abayomis nos anos 1980. Feitas apenas com nós e dobras, elas se tornaram marco para a identidade negra em todo o país.

 

São homenageados ainda Ricardo Gomes, professor aposentado pela UERJ e pesquisador do Centro Nacional de Cultura Popular (1983-2011), onde foi responsável pela Sala do Artista Popular; e, in memorian, a professora Maria José Oliveira, a Zezé, primeira docente negra do curso de Educação Física da Uerj e responsável pela implementação da disciplina de folclore e cultura popular na graduação. Recebe a homenagem sua filha e também professora da instituição, Lucia Maria Oliveira.

 

Por fim, as duas instituições que receberão homenagem são a Comissão Fluminense de Folclore, fundada em 1950; e o Museu de Folclore Edison Carneiro, criado em 1968. Pela Comissão participa, como representante, a presidente interina Verônica Inaciola. Ainda como tributo, mas como nome de prêmio de melhor artigo de pós-graduação, a Folkcom 2025 homenageia também a professora Luitgarde Cavalcanti Barros, aposentada pela UERJ e referência nos estudos da devoção popular.

 

Apresentação de trabalhos e programação paralela

Ao longo dos três dias de evento, serão apresentados cerca de 70 artigos divididos em quatro grupos de trabalho: Diálogos e fundamentos teóricos em folkcomunicação; Folkcomunicação e Culturas Populares; Folkmídia e Processos Midiáticos e o GT temático Futuros Ancestrais. A programação prévia pode ser conferida no site do evento. Os anais estarão disponíveis em breve no site da Rede Folkcom.

 

Na programação paralela, destacam-se um conjunto de ações culturais que congressistas e não-congressistas poderão aproveitar. No dia 29 de outubro, entre as 17h e as 19h, será realizada a Mostra Folkcom de filmes no Auditório Cartola, no Coart. A primeira sessão terá a exibição do média-metragem Gambiarra: O HD de Espadas, seguido de debate com o diretor e roteirista Gustavo Colombo. Ele é o criador deste universo multimidiático que imagina um Rio de Janeiro cyberpunk dominado pelo tecnopólio.

 

Na sequência, três curtas-metragens de membros de Rede Folkcom expõe a produção artística dos pesquisadores. Raízes – Um filme sobre colecionar sacis de Andriolli Costa (UERJ) faz um mergulho na relação de sua família com o personagem mítico mais conhecido do país; Tica, a Rainha do Reisado, de Ribamar Oliveira (UFRJ), em que uma brincante do Cariri cearense desafia o binarismo de gênero e, por fim, Raízes do Vidigal, de Daniel Paes (UVA), sobre o bloco carnavalesco Acadêmicos do Vidigal sobre o ponto de vista da resistência.

 

Na quinta-feira, 30 de outubro, a partir das 17h30 será realizada uma noite de lançamento de obras. Nela, pesquisadores e artistas estarão com bancas para comercialização e divulgação de seus livros e demais produções culturais relacionadas às culturas populares. Entre os destaques dos membros da Rede Folkcom estão Belchior: a construção de um mito na literatura de cordel, de Alberto Perdigão; Quando a televisão vira outra coisa, resultado da tese do professor Osvaldo Trigueiro e Folkcommunication Theory, primeiro livro da Rede em inglês, que tem organização de Guilherme Fernandes, Marcelo Pires, Lawrenberg Advíncula e Isaías Carvalho.

 

Entre os outros confirmados estão Margareth Marinho, com o lançamento do livro de encadernação artesanal A Mula sem Cabeça, Thayron Rangel, autor de Caprichoso – O Livro das Lendas, e o próprio Gustavo Colombo que promove o lançamento de seu primeiro longa-metragem: “Gambiarra – Uga-Uga show”. A noite de lançamento será acompanhada por apresentação musical de Thífani Postali e Rodrigo Cataia.

 

O evento encerra a partir das 17h30 da sexta-feira, 31 de outubro, com uma celebração pelo Dia do Saci. Neste horário, no Coart, teremos apresentações artísticas das mais variadas. Dentre elas, destacam-se a do DJ Pedro Rajão do coletivo Leão Etíope do Méier. Rajão é também idealizador do projeto NegroMuro, que promove mapeamento da memória negra através da arte urbana.

 

De Mossoró, Rio Grande do Norte, Carlos Guerra Júnior traz um set que une rap e repente no projeto Rapentista. Lune Lima performa, com pernas de pau, um número que referencia o saci – personagem com que se apresenta no bloco Terreirada Cearense. Por fim, a turma de bate-bolas Fascinação, de Oswaldo Cruz, traz um pouco da energia do carnaval do subúrbio carioca para os muros da universidade.

 

Serviços:

Evento: 22ª Conferência Brasileira de Folkcomunicação – Folkcom 2025

Quando: 29 a 31 de outubro, da UERJ Maracanã. 10º e 9º andar.

Ingresso: Inscrições pagas, mas com gratuidade para alunos da UERJ e solicitantes de ingresso social em www.folkcom2025.com.br 

Público-alvo: Estudantes, professores, pesquisadores e artistas ligados às culturas populares, membros de grupos e coletivos tradicionais, mestres de grupos populares e demais interessados.

 
 
 

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